Música para renascer
No dia 16 de julho, às 20 horas, ANA COUTTINHO sobe ao palco do 47º Festival de Inverno de Itabira para cravar seu novo nome artístico e mostrar as canções de seu novo álbum, Entrecordas.
A teimosia é um combustível importante na história da cantora e compositora Ana COUTTINHO*. Viver e permanecer vivendo de e na música, apesar do mercado, dos revezes, dos atropelos das mudanças dos tempos e das tecnologias, atravessando, assim, gerações, só mesmo sendo insistente, persistente, obstinada ou, como prefere descrever ela própria: teimosa.
Na estrada oficialmente há 35 anos – 41, se fosse para contabilizar desde a primeira vez em que subiu em um palco para cantar, aos 13, a “teimosia” deu frutos: com oito CDs e dois livros lançados, várias participações em álbuns de colegas e espetáculos, é uma trajetória e tanto, com empenho e perseverança inegáveis.
Agora, começa a divulgar canções de seu nono álbum, atendendo pela alcunha de ANA COUTTINHO.
“Entrecordas”( https://matizcultural.wixsite.com/entrecordas) , show autoral que ela apresenta ao lado de Cláudio Moraleida e Rogério Delayon, representa um panorama de sua obra composta vida afora, com estilos diversos. Crônicas de vida, observações. Ana não se prende a falar somente de um assunto: reproduz o que observa, musica poemas, envia letras a parceiros que admira. O resultado são canções que passam por ritmos como o choro, a balada, o blues, o “tango desconstruído”. Fala de um fim de amor rasgado, sem pieguice. Canta sobre as luas da TPM de uma mulher como qualquer outra, com muita ironia e humor. E faz marchinhas de carnaval com temas inóspitos e inesperados.
O álbum teve seu primeiro single lançado nas plataformas e na Rádio Inconfidência no dia 15 de junho. “Os Dias”, parceria com Kristoff Silva, trata com ironia os diferentes humores da mulher, quando se aproximam os “períodos” (termo usado em Portugal para TPM). A identificação foi imediata desde a primeira apresentação da música, há alguns anos, num show para Helena Penna, logo ganhando o apelido de TPM.
ENTRECORDAS
A opção pelo “acústico de cordas” tem a ver com a necessidade harmonias limpas com uma memória afetiva pulsante. “Quando comecei, era uma compositora que cantava as próprias canções, ao violão. Era época dos festivais e eu defendia as minhas criações. Depois de fazer vários trabalhos temáticos, de cantar outros compositores, de cantar para crianças, hoje eu revisito a minha obra e percebo que ali está a minha essência, muito forte”, avalia.
Nos últimos 15 anos, a cantora deixou na gaveta muito da vertente de compositora com que se lançou e se aprofundou no desejo que tinha de se comunicar com o público infantil. Se isso por um lado abriu caminhos frutíferos e prazerosos para ela, por outro trouxe mais um desafio para a artista agora, ao voltar a se debruçar sobre o seu material “para adultos”. “Neste momento, estou atrelada, sem querer, a um rótulo de cantora de música infantil. As pessoas têm uma necessidade
de rotular. Acredito que música para crianças é música para adultos em formação. São referências sérias e preciosas para quem, ali na frente, vai ter referências para escolher o que ouvir. Essa história de dar “rótulos” aos cantores é engraçada, lembro da polêmica que houve com a Zélia (Duncan) que sofreu alguns estranhamentos por parte até de outras intérpretes, por seu (maravilhoso) disco de sambas. Não acato as rotulagens. Porque o intérprete pode e deve interpretar o que quiser.
Quando eu comecei, interpretava só as minhas canções, as criações de uma adolescente, a história da composição, mas a partir do momento em que fui convidada a cantar na noite com um grupo de bossa nova, aos 17, já virei ‘a cantora de bossa nova Ana Cristina’”, comenta ela, que prefere abraçar a multiplicidade. “Eu canto para todo mundo, sempre. Acho divertido porque inclusive o público para quem eu cantei as músicas da ‘Arca de Noé’ em meados dos anos 2000 está agora adolescente e adulto e tem gente que me procura hoje para saber o que estou fazendo”, conta.
Realizar o ENTRECORDAS é buscar um reencontro com as origens. “Neste momento, me deu vontade de pegar aquilo tudo que foi feito e ficou guardado. Estou buscando de volta a compositora que canta sua obra, que defende seu ponto de vista a partir das letras. Estava com saudade de abraçar aquela adolescente cheia de ideais e seu violãozinho”, conta. “Pensar que estou navegando há mais de 30 anos em caminho que eu escolhi entre tantas opções (a criança queria ser arquiteta ou jornalista, a adulta formou-se em Comunicação e chegou a frequentar metade de um curso de design de ambientes) é algo muito importante. A gente quer viver e sobreviver e a música acabou sendo minha principal função e forma de expressão. Eu tenho que continuar porque é a minha missão e minha profissão. O grande trunfo para permanecer nessa estrada, no meu caso, é a teimosia.”
A GRAVAÇÃO
Claudio Moraleida e Rogério Delayon, que formam com a cantora a tríade que justifica o nome “Entrecordas”, são parceiros de longa data e músicos reconhecidos e versáteis em seus instrumentos. “Eu tenho uma paixão pela música instrumental e em especial pelos violões. Sempre gostei dos instrumentos de corda conversando entre eles, a complementação de harmonia, o diálogo entre elas. É um presente poder associar isso a dois músicos como Moraleida e Delayon, que além de dominarem vários instrumentos de corda, têm a sensibilidade, o que permite uma variação imensa. É como se eu estivesse cantando dentro de uma almofadinha macia de sonoridades”, diz, destacando que o conceito de instrumentos de cordas e voz remonta uma simplicidade que ela quer resgatar neste ciclo que se inicia.
E haja instrumentos: entre violões, ukulele, bandolins, guitarra, guitarra portuguesa e dobro, a dupla se desdobra em sonoridades e harmonias.
A dupla gravou as bases sonoras de todas as músicas, exceto “Pouso e Pausa”, parceria de Ana com Déa Trancoso, que foi gravada ao vivo em estúdio com Cláudio Moraleida.
O repertório, como não poderia deixar de ser, é basicamente autoral, com direito a uma exceção: a canção “Ela”, de Luiz Rocha, da qual Ana diz ter se apropriado. “Identificação imediata, brinco com ele que é usocapião. Ela é uma canção que desde que ouvi pela primeira vez quis cantar.”
“Separei cançõesminhas que já cantei nos discos ‘Outras Esquinas’, ‘A Ponte’ e outras mais antigas, e outras bem recentes que não foram registradas, além de uma parceria novíssima e inédita com Déa Trancoso, que compôs a melodia sobre um texto que escrevi para o Vander Lee, na madrugada de sua morte”, texto esse que ocupa a décima faixa do álbum. Tem também uma com LuizRocha, que se chama ‘Rua do Jardim da Vida Inteira’, e outra com o KristoffSilva, chamada ‘Os Dias’.
As participações:
Além de Cláudio Moraleida, que assume a produção musical junto com a cantora, e Rogério Delayon, ANA COUTTINHO convidou o cantor Anthonio Marra para dividirem a faixa “Ninguém”, o violoncelista Robson Fonseca para “Brisa” e “Barroco”, Luiz Bueno (Duofel), que gravou improvisos de sitar em “Labirinto”, Caio Gracco, que tocou baixo em “Serrinha” e criou a colagem sonora para o texto “Vida é Vento” e, como exceção à “regra das cordas”, Chistiano Caldas tocou acordeom na “Rua do Jardim da Vida Inteira”. Pós-efeitos de Caio Gracco, pré-mixagem de Cláudio Moraleida, mixagem e masterização por Bruno Corrêa.
Repertório do álbum – você pode ouvi-lo no sitehttps://anacouttinho.bandcamp.com/
- Brisa
- Rua do Jardim da Vida Inteira(Luiz Rocha/ Ana Couttinho)
- Os Dias (Kristoff Silva/Ana Couttinho)
- Ela (Luiz Rocha)
- Barroco
- Labirinto
- Ninguém
- Serrinha
- Pouso e Pausa
- Texto: Vida é Vento
A CANTORA
Itabirana de carteirinha, a então “Ana Cristina” subiu pela primeira vez em umpalco aos 13 anos, em um festival de canções na cidade. Seu primeiro show solo em teatro foi em novembro de 1984 mas, oficialmente, foi lançadacomo cantora profissional em 1986, no evento “Semana Elis”, do radialista Tutti Maravilha, no Grande Teatro do palácio das Artes.
Gravou seu primeiro disco, “Outras Esquinas”, em1995 e de lá para cá foram mais sete – até “Sobre oTempo”, lançado em 2015. É também autora dos livros infantis “História da Arca (lançado em outubro) e “Aquático” (www.cdaquatico.com) , que sedesdobrou em disco e turnê em um caminhão-palco especialmente preparado e personalizado para o projeto.
ANA COUTTINHO– como assim?
Ana explica: “Meu nome de registro é muito comum, sempre foi. Quando adolescente, o universo musical me permitiu alavancar a carreira assim, Ana Cristina. Dos festivais nos idos da década de 1980, os primeiros shows, os álbuns, até 2014. Foi quando começaram as confusões. Para citar duas: uma xará do circuito México-Costa Rica-Miami, afilhada de mainstream, tinha um fã-clube bem nervoso. E, mesmo a mocinha estilo ‘Barbie-pop’ tendo metade da minha idade, comecei a ser atacada, de forma recorrente e em bom espanhol, nas minhas faixas no YouTube. Foi um custo demovê-los, em Portunhol mesmo, de sua ira.
Depois, uma xará brasileira, salvo engano do Pará, se armou de advogada e veio pro meu lado tentar me proibir de usar meu nome, Registrou nas marcas, INPI e o escambau e me deu muita dor de cabeça. Até que falei com advogada e ela disse para eu simplesmente ignorá-la. Assim o fiz, mas não sem antes mandar avisar que ela teria que se digladiar com pelo menos mais 3. Tolinha, eu. Quanta ingenuidade!
Na base de dados do ECAD , só no Brasil, existem 138 “AnasCristinas” brasileiras de todos os estilos. Na América espanhola, outra centena. Fora os países lusófonos.
Pois: imaginem o rolo que isso iria dar nas plataformas!
Em nome da preservação da minha obra e carreira e de facilitar o encontro do meu trabalho no mundo virtual, achei por bem optar pela metamorfose. É isto!”“
SERVIÇO
ANA COUTTINHO – ENTRECORDAS
47º Festival de Inverno de Itabira
16 de julho, às 20 horas
Transmissão online no youtube do Festival/Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade
Site sobre o show:
https://www.anacouttinhoentrecordas.com/
Ouça o todo o álbum antes de todo mundo:
https://anacouttinho.bandcamp.com/